Roubaram o catalisador do meu carro!
Os roubos de catalisadores têm sido cada vez mais frequentes em Portugal. E o meu Toyota Prius não escapou a essa onda de furtos. Saiba tudo sobre este tipo de crime…
Pelo que se vai vendo nas notícias, o roubo de catalisadores tem aumentado imenso desde o início da pandemia. Em 2021 houve um aumento de 585% de furtos de catalisadores em Portugal comparativamente a 2020, e aparentemente 2022 vai pelo mesmo caminho.
Desta vez foi a mim que o azar bateu à porta! 🙁
Conteúdo
Como descobri que nos tinham roubado o catalisador
Tal como tem acontecido com todas as vítimas destes roubos, suspeitamos que algo estava errado quando o nosso carro de repente fazia mais barulho que um carro de rally! 😛
Por se tratar de um modelo híbrido (um Toyota Prius de 2008), não detetamos o problema logo de imediato. Isto porque, como a bateria híbrida estava carregada, só após alguns segundos com o carro em andamento é que o motor de combustão entrou em funcionamento. E foi nesse preciso momento que nos assustamos com o barulho e paramos de imediato o carro.
Espreitamos por baixo do carro e deparámo-nos com este cenário:
Tinham-nos roubado o catalisador! 😠
Tal como é recomendado fazer nestas situações, apresentamos queixa (contra desconhecidos) na polícia. Claro que é praticamente impossível reaver o catalisador nestes casos, mas convém sempre alertar a GNR ou a PSP, pois podemos estar a acrescentar pistas para que essas redes de furto possam ser desmanteladas.
Dada a idade do carro, não temos seguro de danos próprios, nem cobertura de furto ou roubo. Como tal, o prejuízo ficará por nossa conta. E a despesa não é nada meiga! Temos recebido orçamentos a variar entre os 600€ e os mais de 2000€ para a instalação do catalisador e da sonda lambda.
E depois vem outra questão: quem nos garante que não voltam a roubar o catalisador?
Este incidente levou-me a recolher o máximo de informações sobre este tipo de furto e a partilhar aqui as que considerei mais relevantes. Espero que seja uma ajuda para melhor entender e prevenir este tipo de crime.
Para que serve o catalisador e porque os andam a roubar
O catalisador é o elemento do sistema de escape que é responsável por converter os gases poluentes provenientes da combustão. Basicamente, serve para “limpar” os gases contaminantes antes de saírem para o exterior de modo a minimizar a poluição.
Há até quem retire intencionalmente o catalisador (ou apenas o miolo do mesmo) com o objetivo de aumentar a potência do motor. No entanto, remover esse componente, além de ser ilegal, promove o aumento de emissão de gases tóxicos, e pode (segundo informação encontrada em sites da especialidade) levar ao desgaste prematuro de algumas peças.
As coimas aplicadas por circular sem catalisador vão desde os 250€ aos 1250€, sendo ainda apreendido o veículo até que seja aprovado em inspeção extraordinária (Artigo 114.º do Código da Estrada). E mesmo que consiga escapar à fiscalização das autoridades, o veículo reprova na Inspeção Periódica Obrigatória, já que falhará no controlo das emissões de CO₂.
Mas porque são os catalisadores tão apetecíveis para os ladrões?
Porque será que de um momento para o outro, os catalisadores se tornaram tão valiosos?
À partida, poderíamos pensar que, tal como o fazem com outros elementos de um automóvel (auto-rádios, jantes, etc), o principal objetivo do furto de catalisadores seria a posterior revenda no mercado negro ou a oficinas menos sérias. Também o é! No entanto, nos últimos tempos as atenções estão mais voltadas para os metais preciosos que fazem parte do catalisador, nomeadamente a platina, o paládio e, principalmente, o ródio – um elemento químico branco prateado, que é um subproduto da produção de platina e paládio.
Ou seja, o risco de nos roubarem o catalisador não está, ultimamente, relacionado com o seu valor como componente a ser diretamente reutilizado noutro veículo, mas sim com o valor derivado da recuperação dos metais raros utilizados para os fabricar.
São esses metais que incorporam o miolo do catalisador (também conhecido pela “colmeia” do catalisador, devido ao seu aspeto a fazer lembrar um favo de mel), que são responsáveis pelo tratamento dos gases libertados pelo motor. Basicamente, os gases ao passarem pela estrutura porosa dessa colmeia, sofrem uma reação química que convertem os poluentes em compostos não tóxicos.
A presença desses materiais no interior dos catalisadores, sempre os tornaram apetecíveis aos olhos dos ladrões. Mas ultimamente o preço desses metais preciosos tem aumentado exponencialmente, o que eleva o interesse por parte dos amigos do alheio por se tratar de um furto ainda mais rentável.
Na seguinte imagem pode verificar que o preço por grama do paládio e do ródio é muito superior ao preço do ouro. No caso do ródio, considerado o metal nobre mais raro e mais valioso do mundo, o preço consegue ser mais de 10 vezes superior ao do ouro!
À data desta publicação, cada grama de platina vale cerca de 31€, de paládio quase 69€ e uma grama de ródio vale mais de 555€. Para dados mais atualizados, consulte a cotação atual desses metais.
A quantidade destes metais presentes num catalisador depende de vários fatores, mas pelo que consegui apurar, em média poderá conter entre 3 a 7 gramas de platina, 2 a 7 gramas de paládio e 1 a 2 gramas de rhodium.
Sendo estes metais tão valiosos e sendo os catalisadores elementos tão fáceis de roubar, não é de admirar que a quantidade desses furtos continue a aumentar!
Curiosamente, na República Democrática do Congo, foi encontrado um novo uso para o miolo dos catalisadores. Chama-se “bombe” e é uma nova droga criada a partir da trituração do núcleo dos catalisadores juntamente com comprimidos como Diazepam e Nutrilina. Segundo especialistas, essa droga pode fazer com que os seus consumidores fiquem imóveis durante horas ou durmam por dias.
Quantos mais usos encontrarem para estes metais, mais frequentes se tornarão os furtos!
Porque é que os metais que compõem o catalisador valorizaram tanto nos últimos anos?
Uma das razões para o aumento do preço de metais como o ródio, está relacionada com o aumento da procura para o cumprimento de regras antipoluição cada vez mais rígidas.
Os efeitos da pandemia na mineração em África do Sul, que detém mais de 80% da oferta global, também vieram limitar a oferta desse metal.
Esta combinação de procura em alta e oferta em baixa, tem levado a uma elevada e repentina subida de preço.
Como são roubados os catalisadores
É impressionante como é tão fácil e rápido roubar o catalisador de um carro! É de tal forma simples que os ladrões conseguem atuar em plena luz do dia e em zonas movimentadas, sem que ninguém se aperceba que se trata de um furto.
O modus operandi deste furto pode variar, mas consiste geralmente em alguém colocar-se debaixo do carro e cortar as extremidades do catalisador usando uma rebarbadora elétrica ou outro equipamento de corte sem fios.
Mediante a altura do veículo ou a forma como este está estacionado, os ladrões poderão também recorrer ao uso de um macaco hidráulico para elevar o carro e possibilitar o acesso ao catalisador.
Existem imensos vídeos de roubos de catalisadores no Youtube em que podemos ter uma noção da rapidez com que estes indivíduos atuam. Veja, por exemplo, este furto que demorou menos de 90 segundos:
Nas minhas pesquisas encontrei também algumas queixas relativas a oficinas menos escrupulosas que recomendam aos clientes a substituição do catalisador, sem que este tenha qualquer problema. Outras, aproveitam-se do cliente deixar lá o carro por um longo período (para uma revisão ou reparação, por exemplo), para abrirem o catalisador, retirarem o miolo e voltarem a fechá-lo. Muitos clientes só se apercebem que o catalisador do seu carro está oco, numa próxima inspeção periódica obrigatória ou numa ida a outra oficina.
Têm sido também relatados alguns casos em que os furtos não correm “tão bem” para os ladrões. Desde simples casos em que são apanhados em flagrante delito, até algumas situações (ocorridas nos Estados Unidos) em que morrem esmagados pelo carro, supostamente porque o macaco cedeu!
Qual o destino desses catalisadores roubados
Segundo as autoridades, a prática destes crimes envolve, na maioria dos casos, redes organizadas e estratificadas por vários patamares que vão desde os operacionais que cometem o furto do catalisador, até aos recetadores e exportadores dos metais preciosos.
Após o furto, o ladrão tem várias soluções, tais como:
- Vender os catalisadores intactos a oficinas que, por sua vez, os revendem a clientes;
- Vender os catalisadores a pequenas sucatas que depois desmontam o catalisador e extraem os metais valiosos para os revender a sucatas de maior dimensão. No fim do processo, as grandes sucatas encaminham a platina, o paládio e o ródio para as fábricas que deles necessitam para o fabrico de novos catalisadores.
Em alguns casos, os criminosos têm capacidades técnicas para proceder à extração dos metais preciosos, possibilitando-lhes a venda direta a empresas de refinação.
Com o aumento do furto de catalisadores, assistimos inevitavelmente a um aumento da procura pelos mesmos. Ou seja, algumas vítimas acabam alimentando ainda mais esta onda de crimes ao optarem por comprar catalisadores no mercado negro. Obviamente que quem o faz, fá-lo como forma de ver reduzido o seu prejuízo com o furto de que foi alvo.
Quais os carros mais procurados pelos ladrões de catalisadores
Quando esta onda de furtos de catalisadores disparou entre 2020 e 2021, várias fontes de informação divulgavam quais os carros mais apetecíveis para este tipo de roubo, mencionando marcas, modelos e anos de fabrico. Neste momento pode-se afirmar que qualquer automóvel a gasolina, desde que o acesso ao catalisador esteja facilitado, é passível de ser alvo deste crime.
De qualquer forma, segundo a GNR, os alvos são maioritariamente veículos com matrículas dos anos 90 e da primeira década deste século, a gasolina.
Carros mais altos em relação ao solo, como os SUV, acabam por facilitar ainda mais a operação aos larápios, já que dispensam o uso do macaco hidráulico.
Porque o Toyota Prius é o alvo preferido dos ladrões de catalisadores
Ultimamente, um dos modelos mais cobiçados para estes furtos, tem sido exatamente o Toyota Prius.
Em primeiro lugar, por ser um modelo híbrido, o catalisador é menos solicitado, sofrendo menos corrosão do que o catalisador de um carro convencional. Como os metais preciosos destes catalisadores estarão (à partida) melhor conservados, esses furtos rendem ainda mais.
Outro motivo para esta preferência, é que os catalisadores dos Toyota Prius estão num local de fácil acesso, o que facilita o corte e a remoção.
Como evitar que lhe roubem o catalisador
A dica 100% eficaz para evitar que lhe roubem o catalisador, seria: troque o seu carro por um modelo elétrico! 😛
Infelizmente, é praticamente impossível garantir que o catalisador do seu carro nunca será furtado. Já começam a surgir várias soluções para desencorajar os ladrões, como umas armaduras que cobrem o catalisador. Mas tratam-se de soluções dispendiosas, em alguns casos ainda mais caras que o próprio catalisador. O problema maior, é que já há testemunhos de quem foi roubado mesmo tendo essas proteções.
A PSP, a GNR e várias fontes internacionais, vão partilhando alguns conselhos para evitar estes furtos, uns mais óbvios do que outros, mas que convém ter em conta:
- Evite estacionar com duas rodas sobre o passeio. Isso facilita o furto do catalisador, já que deixa de ser necessário usar o macaco para levantar o carro.
- Evite o estacionamento em locais pouco iluminados ou isolados.
- Prefira estacionar paralelamente ao passeio e o mais encostado possível. Dessa forma obriga o ladrão a usar o macaco do lado da rua, ficando mais exposto.
- Instale um alarme e garanta que ajusta a sensibilidade de forma adequada.
- Marque o catalisador com o VIN (número de identificação do veículo). Esta é uma recomendação muito partilhada na internet, mas sinceramente, não acredito que possa dissuadir o ladrão a avançar com o furto. Pode é, eventualmente, ser útil para provarmos que o catalisador é nosso, caso a polícia o encontre.
- Instrua os seus vizinhos sobre este crime para que todos estejam bem informados e preparados para alertar as autoridades se necessário.
Seja qual for a solução, o importante é tentar dificultar ao máximo a tarefa do ladrão. Quem faz este tipo de furtos, tem muito por onde escolher. Se ao espreitar por baixo de um carro constatar que este lhe vai dar mais trabalho e aumentar o risco de ser apanhado, ele simplesmente avança para o próximo. É por esse motivo que algumas soluções que têm aparecido no mercado, como o Cat Lock ou o Cat Shield Defender, poderão servir de elemento dissuasor.
O que fazer se detetar algo suspeito ou for vítima de furto
Recomenda-se que, caso detete alguma pessoa debaixo de uma viatura, alerte de imediato a PSP ou a GNR. Ao mesmo tempo, deverá recolher o máximo de informações que conseguir, tal como a matrícula de algum carro suspeito nas proximidades. Viaturas levantadas com o macaco e sons de corte de metal enquanto um individuo se encontra deitado debaixo do carro, são fortes indícios de que se encontra a decorrer um furto.
Caso seja vítima de furto, apresente queixa na polícia fornecendo o máximo de informação que tiver. Por exemplo, no meu caso, a GNR questionou se existiam empresas na zona onde ocorreu o furto, para poderem verificar se existiriam câmaras de segurança que pudessem ter captado o ato.
As autoridades apelam ainda para que não se recorra ao mercado paralelo para adquirir catalisadores. É claro que essa solução seria a mais em conta para minimizar o nosso prejuízo. Mas, no fundo, estaríamos a comprar material roubado, que para além de ser crime, promove ainda mais o aumento destes furtos.
O prejuízo para quem é vítima destes furtos incluem a compra de um novo catalisador, a mão de obra e os possíveis danos noutros componentes do veículo. Informe-se com o seu mecânico sobre a possibilidade de colocar um catalisador da concorrência em vez de um de marca, mas garanta que este cumpre as normas de emissões de gases e de ruído, para não ter problemas na próxima inspeção periódica obrigatória. Um catalisador da concorrência, para além de lhe ficar mais barato, poderá também tornar-se menos interessante para os ladrões.
Se durante muito tempo a nossa preocupação era o roubo de auto-rádios e jantes dos automóveis, agora rezamos para que não nos levem também o catalisador!
E você, já foi vítima de furto de catalisador? Partilhe o seu testemunho, opiniões, dicas para combater este flagelo, etc.
Se quiser, partilhe este artigo com todos os seus familiares e amigos para manter o máximo de pessoas informadas acerca desta onda de furtos.
Este conteúdo foi publicado originalmente em: 22/02/2022
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Fui vítima de um roubo de um catalisador
Fui vítima de um roubo de catalisador na zona da Apelação, Loures. Estes filhos da puta deviam ser todos presos durante um bom tempo e pagarem uma indemnização elevada aos donos dos veículos. Era matá-los todos