Os conselhos da Mónica: Nós e a crise…

Um olhar atento sobre a crise económica e alguns conselhos para a contornar, por Mónica Carvalhido.

Bolsos vazios

Esta semana, como habitual, deliciei-me a ler a crónica do Ricardo Araújo Pereira na Visão. A comparação entre os prognósticos feitos à crise e a astrologia é uma verdadeira pérola…

A economia são os novos signos. Suportei anos de conversas sobre charlatanice zodiacal sem nunca saber do que se estava a falar. Os capricórnios são estáveis, os escorpiões são traiçoeiros, etc. Com a economia sucede agora o mesmo. Toda a gente percebe de economia menos eu. Os eurobonds são estáveis, os mercados são traiçoeiros, etc. É possível que esteja a ser injusto. Talvez haja menos charlatães da astrologia. Para um charlatão astrológico, os escorpiões são sempre traiçoeiros. Para um charlatão económico, os mercados podem ser traiçoeiros agora quando eram sérios há um ano.

Aproveitando eu também para fazer o “mapa astral”, acredito que 2013 seja o ano em que se comece a vislumbrar a bonança, mas até lá continuaremos a assistir à gestão criminosa que está a ser feita em muitas empresas e que inevitavelmente comprova que as mesmas têm os dias contados, colocando em perigo o emprego dos seus colaboradores. Como diz uma amiga minha “só não digo que o meu administrador faça gestão criminosa porque ele nem gestor é”…

É público que a banca está a passar por estrangulamentos provenientes da falta de liquidez, o que dificulta toda a economia, mas como sabemos (ou deveríamos saber) a banca é composta por empresas que como objetivo primário visam o lucro. E apesar das dificuldades que vivem vão certamente conseguir virar o jogo a favor – até porque há uma verdade incontestável, são empresas que nunca deixarão de ter clientes para o seu produto: dinheiro.

Depois desta travessia no deserto sobreviverão os melhores, aplicam-se os conhecimentos de Darwin – far-se-á uma seleção natural.

A minha preocupação foca-se noutro sentido, não necessariamente no que devemos esperar do nosso governo, do nosso patrão, do nosso banco, mas da falta de educação financeira que temos enquanto povo. Sempre se disse que é muito difícil ajudar quem não quer ser ajudado e acho que é aí que nos encontramos… a maior parte de nós acha que não precisa de consultoria financeira, acredita que faz bem as suas contas e, na melhor das hipóteses, até pode exclamar para comprovar a sua teoria – “nem sequer devo nada a ninguém”!

“À RASCA”!?

Na sexta-feira passada estava à espera de um cliente enquanto tomava um café. A reunião estava marcada para as 09:30, como cheguei mais cedo aproveitei para apreciar o meio envolvente, estava em Braga, num shopping com lojas fechadas até às 10:00 e apenas com um hipermercado a funcionar há minutos. Ainda assim em cerca de 20 minutos contei 7 pessoas que se dirigiram ao pequeno café para tomar pequeno-almoço. Já alguma vez fizeram contas à diferença de preço entre tomar pequeno-almoço fora ou em casa?

O que mais me chamou a atenção foi o grupo etário a que as pessoas pareciam pertencer – arriscaria entre os 20 e os 25 anos. Aquela geração que promove manifestações e se designa por geração “à rasca”.

Preocupa-me esta geração porque não estou muito certa que depois da bonança aparecer não possamos cair de seguida noutra situação de “crise”…

Receio que esta seja uma geração que mesmo sem saber o que é receber um salário já esteja habituada a ter despesas mensais – que obviamente outros suportam. Receio que esta geração saiba quanto gasta por mês em combustível mas não faça ideia de quanto custa um passe para transportes públicos, saiba quanto é a fatura do telemóvel para não imagina sequer o que foi um “credifone”, saiba o que é acabar os estudos e ficar a trabalhar a recibos verdes mas talvez nem saiba que na geração anterior fazíamos estágios não remunerados para ter experiência no Curriculum, saiba o que é castigo mas não se lembre bem do que é um estalo, saiba certamente o que é mesada mas não esteja bem a ver para que serve um mealheiro. Mas atenção esta geração só sabe o que lhe ensinaram, por isso a culpa não é deles, mas de quem lhes tentou facilitar a vida ao extremo, “dando-lhes o peixe mas não os ensinando a pescar”.

ARREGAÇAR AS MANGAS

Para podermos sair da situação em que vivemos e esperar tempos dourados precisamos de trabalhar todos em conjunto, não podemos ficar simplesmente à espera que as coisas mudem, se não há ofertas de emprego, criem-no. Precisamos de ter espírito empreendedor, precisamos de acreditar em nós e arregaçar as mangas, precisamos aprender a ganhar dinheiro e a geri-lo, não podemos achar que o problema está no quanto se ganha no fim do mês – não é verdade. O problema está em quanto se gasta no fim do mês!!!

Quando foi a última vez que fez uma revisão à sua fatura da luz? Da água? Do gás? Das comunicações? Dos seguros? Dos créditos? Do hipermercado? Dos extras?

Quer um exemplo?! Já pensou em rever o valor do seguro de vida associado ao seu crédito habitação?

Pense nisso, afinal o dinheiro é seu! 🙂

Os conselhos da Mónica: Nós e a crise...


Este conteúdo foi publicado originalmente em: 19/07/2011



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11 Comentários

      1. E com razão Eugénio! Desculpa o atraso, mas já seguiu para o teu e-mail.

        Aguardo novo comentário para saber se realmente ficas ou não surpreendido! 🙂
        Obrigada,
        Mónica Carvalhido

        1. Sem palavras mesmo, após receber a resposta…. posso adiantar que estamos a falar em valores na ordem dos 50% do valor que pago actualmente.

          Difícil encontrar mais barato.

          Mónica vê o mail que te enviei e responde s.f.f.

  1. Parabéns por mais um grande conselho! Efectivamente, as poupanças que se encontram nos prémios dos seguros pagos por todos nós, e associados ao Crédito Habitação, rondam os 50%… Em tempos de crise, todas as pessoas deviam tomar consciência disso e mudar, bastando para isso fazer uma simples simulação junto de um Consultor Financeiro!

  2. Mónica,

    Muito bom post com excelentes conselhos realmente.

    O que me deixou com um pouco de dúvida foi quando falou da geração à Rasca e deu o exemplo do café.

    Embora ache que todos nós devêssemos economizar, principalmente em coisas sem grande valor como o cafezinho, etc. também acho que quando gastamos no café, estamos a movimentar a economia. Isso se aplica ao café, ao cinema, ao lanche depois do cinema, etc, etc.

    Este é para mim um grande dilema pois precisamos encontrar o ponto de equilíbrio. Economizar sem parar a economia.

    1. Olá “Seguro automóvel”

      Obrigada pelo entusiasmo!
      Compreendo o teu comentário, de certa forma estamos sempre a ouvir que temos de promover a economia… eu concordo, mas alguém devia explicar como, não é?! 🙂
      O café, o cinema, o lanche depois do cinema…etc…. são excelentes para todos aqueles cujo orçamento mensal permite já de si uma poupança mensal efectiva (recomenda-se que seja de pelo menos 10% da remuneração).
      O mais difícil de uma economia é equilibrar os activos e os passivos, e se todos nós fizermos esse esforço dentro da nossa casa, com as nossas próprias contas, será um imenso passo.
      Talvez o nosso gesto comprometa alguns cafés por exemplo, é um facto. Mas garantidamente não compromete a capacidade empreendedora do empresário que pode, por exemplo, criar uma empresa de almoços saudáveis para levar aos escritórios.
      Já repararam quantas pessoas, sem possibilidade de ir a casa, almoçam fritos e coisas do género para não gastar muito dinheiro no almoço??!! Imagine haver alguém que tipo “fadinha do lar” vai até ao cliente e serve uma sopinha, uma sandes ou salada e um suminho de fruta? E tudo isto pelo preço da diária habitual??!!
      Como clientes temos de sentir que o nosso dinheiro é bem gasto, como empresários temos de sentir que somos uma mais valia para o nosso cliente. Se todos fizermos a nossa parte, a economia gira 😉

      Cumprimentos,
      Mónica Carvalhido

  3. Como a maioria do jovens, também eu poderia ter habitação própria recorrendo ao crédito habitação. Mas, da maneira como o país vai, não me imagino a meter numa coisa dessas. Pertenço no momento, á geração á rasca, que acabei a minha licenciatura, mas de momento não há empregos na minha área. Como moro longe dos pais, todas as despesas tem de ser pagas por mim, e já há muitos anos que eles não me dão tostão. Acho que temos de nos desenrascar sozinhos, porque muitas vezes ter a ajuda finaceira dos pais só complica a situação.

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