Mortalidade dos turnos de noite: riscos para a saúde do trabalho noturno
Trabalhar em turnos rotativos e, sobretudo, fazer os turnos da noite prejudicam em muito a sua saúde. Saiba porquê.
Trabalhar em turnos rotativos e, sobretudo, fazer os turnos da noite prejudicam em muito a sua saúde. Por mais que acreditemos que temos total controlo sobre o nosso corpo, a verdade é que ele tem um controlo e regras bem precisas.
O nosso corpo tem um relógio biológico que segue um padrão de 24 horas, seguindo a alteração do dia e da noite. Por exemplo, durante o dia temos, normalmente, fome toda as quatro horas. A temperatura do nosso corpo diminui, também, automaticamente, à noite. As capacidades físicas e intelectuais seguem, também, esse ritmo biológico, daí estarmos automaticamente mais dispersos ou ativos em determinados momentos do dia.
Quando o nosso corpo capta a luz do dia, o cérebro recebe esses sinais libertando diversas substâncias como a histamina ou a serotonina, sendo essas substâncias que nos mantêm acordados.
O que acontece, então, quando trocamos completamente as voltas a esse relógio biológico, trabalhando por turnos ou trabalhando à noite?
A saúde e o corpo daqueles que trabalham à noite e sobretudo em horários irregulares sofrem consequências graves.
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O nosso corpo não é feito para trabalhar em turnos
O nosso organismo rege-se por um ritmo dito circadiano que é programado por um relógio interno. Esse relógio influencia todo o tipo de atividades físicas e, sendo que o período desse ritmo circadiano é de aproximadamente 24 horas, acaba por ser influenciado por fatores exteriores como a luz, o exercício físico, a sociabilidade ou ainda a alimentação. Alternar esse ritmo de forma constante é bastante perigoso para a saúde.
O facto de o nosso corpo seguir um ritmo circadiano, faz com que precisemos, para o deixar “satisfeito”, de ter algumas atividades fisiológicas fixas e regulares no tempo. Precisamos, portanto, de fazer determinadas coisas aproximadamente sempre à mesma hora… coisa que não acontece quando se trabalha por turnos!
Trabalhar por turnos e sobretudo trabalhar durante a noite (período para o qual o corpo não está preparado biologicamente e naturalmente para estar ativo), faz com que o ritmo circadiano seja invertido, sendo ainda mais perigoso quando esse trabalho é realizado por turnos, pois aí não existe nenhum ritmo preciso e regular.
Trabalhar à noite é sinónimo de maus hábitos de sono
Quem trabalha por turnos ou à noite acaba por sofrer uma diminuição de horas de sono: dormir menos significa ter maus hábitos de sono, sendo que a falta de horas regulares e satisfatórias de sono está associado a um maior índice de doenças graves e crónicas, como a diabetes ou doenças cardiovasculares.
Mesmo que a pessoa, trabalhando por turnos ou à noite, acabe por dormir durante o dia, o facto de o corpo seguir um ritmo circadiano, não irá descansar tão bem. O sono durante o dia é de pouca qualidade, mais curto e perturbado por elementos exteriores como a luz ou um barulho, sendo claramente menos produtivo.
Os turnos de noite aumentam o risco de doenças cancerígenas
O trabalho de noite é indicado como uma causa de doenças cancerígenas (categoria 2A) desde 2007. Esta classificação realizada pelo Centro Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e diversos outros estudos médicos e científicos indicam de forma clara que trabalhar à noite ou por turnos provocam um aumento de cancro.
Para sustentar ainda mais estes estudos, o Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica em França (INSERM) realizou um estudo no qual concluiu que, mulheres que trabalham à noite ou em turnos da noite há quatro ou mais anos e tendo já tido filhos, têm um risco ainda mais elevado de sofrer com doenças cancerígenas, nomeadamente cancro da mama.
Se tais estudos e conclusões não fossem suficientes, um estudo publicado na revista científica American Journal of Preventive Medicine mostra que o trabalho por turnos e turnos noturnos é ainda mais perigoso quando se fala do sexo feminino. As mulheres que trabalham em turnos noturnos rotativos durante cinco ou mais anos, sofrem uma redução da esperança média de vida e têm um risco maior de sofrer de um acidente cardiovascular mortal.
Trabalhar à noite aumenta o risco de mortalidade e acidentes de trabalho
Trabalhar à noite aumenta o risco de distúrbios de sono, como a sonolência, fadiga ou falta de concentração e vigilância por parte do trabalhador. O Institute for Work and Health (IWH) indica que o trabalho de noite e o trabalho por turnos e horários rotativos estão claramente associados a um maior risco de lesões e acidentes de trabalho. Mais do que o risco de lesões e acidentes de trabalho, os trabalhadores noturnos são propensos, sete vezes mais do que os trabalhadores diurnos, a acidentes rodoviários.
Ser trabalhador à noite ou por turnos é ser uma pessoa mais stressada
O dito relógio biológico controla várias hormonas, incluindo a cortisol, a hormona ligada ao nível de stress. Quanto mais a pessoa for stressada, mais cortisol liberta. De forma natural, o índice de cortisol no corpo humano é mais elevado durante o dia, diminuindo durante a noite.
No entanto, no caso dos trabalhadores por turnos ou trabalhadores de noite, o nível de cortisol durante o dia é ainda mais elevado do que as pessoas que trabalham em horários diurnos, devido às irregularidades do relógio biológico. Esse nível elevado faz com que a pessoa seja mais stressada, fazendo com que esteja num estado de hiper-vigilância constante, aumentando a dificuldade em adormecer. O elevado nível de cortisol leva, portanto, a uma maior prepotência em desenvolver distúrbios de sono como a insónia ou a sonolência constante.
Trabalhar à noite e em turnos rotativos afeta gravemente o seu cérebro
Um estudo publicado na Occupational & Environmental Medicine analisou mais de três mil pessoas em França que trabalhavam em turnos noturnos. O objetivo foi analisar o cérebro destes trabalhadores, tendo em conta a memória e a rapidez de processamento de informação, entre outros critérios de análise. Os resultados deste estudo realizado em França são surpreendentes: os trabalhadores que trabalham há dez ou mais anos em turnos noturnos têm uma memória bem pior do que a dos trabalhadores que trabalham em horários diurnos. Este estudo mostra também que as capacidades cognitivas gerais dos trabalhadores noturnos são bem menores do que as dos trabalhadores diurnos, equiparando esse nível com 6 anos e meio de declínio cerebral.
No entanto, este estudo divulga também uma boa notícia e uma nota de esperança para os trabalhadores de turnos noturnos rotativos: se o ciclo de trabalho noturno é interrompido ao final de cinco anos (ou menos), o nível cognitivo consegue recuperar e voltar a níveis perfeitamente normais e equivalentes aos de uma pessoa que nunca trabalhou em turnos noturno rotativos.
Riscos e efeitos só a médio ou longo prazo? Não é bem assim!
Os riscos e efeitos de trabalhar durante a noite ou em turnos noturnos não aparecem só a médio ou longo prazo. Grande parte destes efeitos aparecem logo nos primeiros dias de horários irregulares e relógio biológico invertido. Aliás, vários destes efeitos são sentidos sempre que alguma alteração é feita no horário biológico do corpo humano. Ficar acordado quando o nosso corpo deveria estar em repouso e vice-versa pode acontecer também em noites de estudo, voos longos ou uma noite passada em branca. Os efeitos sentidos de forma imediata podem ser:
- Distúrbios gastrointestinais como dores de estômago, falta de apetite, náuseas, diarreia, constipações, etc;
- Maior risco e exposição a acidentes;
- Distúrbios de sono imediatos como insónia ou sonolência constante;
- Diminuição da concentração;
- Aumento do nível de stress e irrequietude;
- Sentimento geral de desconforto.
Estes sintomas e efeitos não devem ser vistos como normais ou banais. Apesar de serem experienciados, infelizmente, com alguma irregularidade, quando sentidos de forma constante devem ser fonte de análise, pois podem levar, a médio e longo prazo, a problemas bem maiores e graves, como:
- Doenças cardiovasculares;
- Diabetes ou síndrome metabólica;
- Obesidade;
- Aumento do nível de colesterol e açucares no sangue;
- Depressão e alterações de humor;
- Problemas gastrointestinais graves como ulceras;
- Problemas de fertilidade;
- Doenças cancerígenas.
Trabalhar à noite é perigoso para a saúde…mas necessário
A verdade é que trabalhar à noite acaba por ser algo absolutamente necessário em muitos casos e situações. Para algumas profissões como profissionais de saúde, bombeiros, polícias, seguranças, entre tantas outras, é mesmo um facto incontornável. O turno da noite é algo essencial e indispensável para a boa continuação e sustentabilidade de muitas empresas e instituições sendo portanto, impossível de o impedir.
No entanto, existem várias formas de possibilitar que este seja o menos penoso e perigoso possível, tanto para os trabalhadores em questão como para todo o ambiente que os envolve. A empresa ou instituição deve tentar proporcionar o melhor ambiente e condições de trabalho para os trabalhadores do turno da noite, afim de minimizar ao máximo os riscos e perigos destas alterações de horários. Uma atenção especial com a qualidade das instalações, com a segurança das mesmas, com espaços de alimentação e com a luminosidade são alguns dos aspetos que, enquanto empregador, pode preocupar-se a implementar.
Quanto a um empregado que trabalhe durante a noite e por turnos da noite, manter um horário preciso para dormir, evitar refeições pesadas e cafeína antes de dormir, ou dormir uma sesta antes de ir trabalhar, são alguns exemplos de dicas para passar por esta experiência tão violenta para o seu corpo, da melhor forma possível.
Este conteúdo foi publicado originalmente em: 07/07/2017
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Para que uns possam escolher quando querem trabalhar , outros têem que trabalhar quando não dá jeito , É a lei da vida nem todos têem o bem bom.
pois completamente 100% de razão só que devíamos de ser mais bem remunerados
Existem empresas com trabalho continuo, e nesses casos pelo menos, as coisas deviam ser diferentes, e as remunerações diferentes também.
Trata-se de um problema de saúde pública de certo modo.